Créditos da foto: (Divulgação)
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Um tipógrafo falido, com a Guerra de Secessão terminada cinco anos antes, no Texas, viaja pela região, solitário, lendo para platéias reunidas nos cafés de pequenas cidades, as notícias publicadas em jornais que não chegam a essas localidades perdidas em meio aos desertos e às pradarias infindáveis do norte do estado.
O país ainda cura as cicatrizes da carnificina da guerra civil e do massacre aos povos indígenas e é nessa atmosfera que esse mensageiro da vida no mundo cobra algumas moedas para dar seu espetáculo de leitura de jornais, contar histórias verídicas e assim ganhar a vida na nova atividade.
Veterano de três guerras, o capitão Jefferson Kyle Kidd, o interessante personagem do tipógrafo, é interpretado pelo ator Tom Hanks, recém afetado pelo coronavírus há pouco menos de um ano. Pela primeira vez ele se aventura no gênero do faroeste.
O filme que narra a saga do contador de histórias itinerante é Relatos do mundo (News of the world), e é pré-candidato ao Oscar, dia 25 de março. A produção entrou no catálogo da Netflix, sua distribuidora, para competir na corrida do premio.
Trata-se de um gênero que volta ao grande circuito do cinema comercial depois de raros cartazes realizados após a época de ouro dos filmes de John Ford, Sam Peckinpah, Fred Zinnemann, George Stevens e, mais recentes, Clint Eastwood e Sergio Leone.
Duas dessas obras episódicas ( e ótimas ), de Tarantino e de Iñarritu, são de cinco anos atrás - O regresso e Os oito odiados.
Além de Hanks, um ícone da indústria cinematográfica da Califórnia e um dos atores mais estimados pela comunidade de Hollywood, a atriz alemã de 12 anos, Helena Zengel, também está na disputa. Ela faz a menina filha de colonos alemães assassinados durante a guerra e criada pelo povo Kiowa que por sua vez foi praticamente dizimado pelos brancos. Johanna é uma autêntica indígena e precisa ser levada para a casa dos tios biológicos, colonos também, pelo capitão Kidd que cruza com ela por acaso em meio à devastação da região, no pós guerra da secessão.
Da estirpe dos road movie, Relatos do Mundo (um título frio encontrado na sua tradução para o mercado brasileiro) é dirigido por Paul Greengrass, que já havia trabalhado com Hanks em Capitão Phillips, filme gênero aventuras e é um diretor que se inspira no realismo, herança do seu passado de documentarista.
Agora, ele adaptou o romance de uma escritora, Paulette Jiles, que se junta ao seu portofolio e à série de seus eficientes filmes sobre o agente secreto Bourne: The Bourne Identity,The Bourne Supremacy, The Bourne Ultimatum e Jason Bourne.
Aqui e ali Greengrass conserva no roteiro de News of the world alguns toques políticos da autora do livro. Quando alude aos quatro anos de ''matança e sangue'' do período da guerra civil; ao mostrar um grupo desalentado de sobreviventes do povo Kiowa atravessando a tela em estado lastimável e na fala de um personagem que se refere à guerra civil americana como uma guerra ''dos ricos'' que teria sido lutada ''pelos pobres.''
Um personagem truculento, dono de terras da região e de homens semi-escravizados, que alerta: a guerra não terminou. ''Só vamos parar de lutar quando tudo for nosso.'' Ou seja: todas as terras dos povos indígenas.
Relatos do mundo é um filme comercial com vistas a premiações tradicionais. As duas interpretações, sóbrias e introspectivas, do super profissional Tom Hanks e da atriz/ menina Helena Zengel, que é correta, não deixam o filme escorrer pelo ralo apesar de um final bastante previsível. Mas está longe de entrar para o altar onde se inscreve a seleção dos memoráveis filmes do cultuado gênero.
É programa para os fãs que não vão matar a saudade de Ford, Zinnemann, Stevens e Eastwood. trata-se de um faroeste bem intencionado a ser visto sem expectativas.